Perda Auditiva no Adulto e Uso de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (“Aparelho Auditivo”) |
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No mundo globalizado é muito comum nos depararmos com o preconceito da aparência em relação às necessidades especiais e, particularmente, as relacionadas com a audição e a comunicação. Notamos a resistência de muitas pessoas com diminuição da audição em fazer uso de um aparelho auditivo. As limitações impostas pelo avanço da idade deveriam ser cada vez mais entendidas pela sociedade para não gerar ansiedade por parte dos que necessitam de algum auxílio.
Mas não é somente o idoso que necessita AASI. As crianças, mesmo recém-nascidas que tenham problema de perda auditiva, devem ser investigadas o mais cedo possível, ao menor sinal de surdez, quando os pais dizem “parece que o meu filho não escuta certas coisas” ou quando dizem “o meu filho só escuta o que quer”. A criança com perda auditiva tem grande prejuízo na aquisição e desenvolvimento da linguagem, no relacionamento social e no aprendizado. As professoras do ensino fundamental estão muito bem preparadas para observar e chamar a atenção dos pais no que diz respeito à perda auditiva da criança. O aluno que “não presta a atenção em nada” pode ter uma deficiência auditiva. Aquele bagunceiro que “não respeita a professora” muitas vezes é um deficiente auditivo.
O “Teste da Orelhinha” ou “Triagem Auditiva Neonatal” deve ser o primeiro exame a ser realizado, quando a criança tem apenas dois ou três dias de idade. Conforme o resultado, outros exames devem ser realizados para o diagnóstico e o tratamento necessário, quando for o caso.
Na Figura 1 nós vemos o seguinte diálogo:
Médica: O senhor está gostando do aparelho auditivo?
Paciente: Sim, estou gostando muito. Já troquei três vezes o meu testamento.No adulto, principalmente no idoso, a dificuldade em ouvir pode gerar apatia, isolamento e depressão. O indivíduo vê as pessoas falando, ou até ouve os sons da voz, mas não compreende o que foi falado. Muitas vezes sente vergonha em solicitar que repitam ou que falem mais alto e prefere fingir que entendeu ou então, o que é pior de tudo, prefere ausentar-se do convívio social e até mesmo profissional.
Na atualidade, todas as pessoas, de qualquer idade, precisam se acostumar com a ideia de que vão viver pelo menos cem anos. As crianças e os jovens de hoje já têm de começar a se acostumar com a ideia de que a vida vai durar cento e vinte ou cento e cinquenta anos. Assim precisamos fazer de tudo para evitar os “desgastes” do nosso corpo e repará-los à medida que vão aparecendo.
A velha história de que “nada ouve”, “nada fala” e “nada vê” não serve, nem um pouco para os dias de hoje. Precisamos participar da vida, precisamos ouvir e falar, entre outras coisas.
Para tudo isso é preciso que cada um participe ativamente das atividades diárias, quer sejam sociais ou profissionais. É sempre bom frisar que “é preciso saber escutar” e não “apenas ouvir” o que as outras pessoas estão falando. Na qualidade de vida, cada vez mais cantada e decantada, incluem-se especialmente as atividades sociais e de lazer. Mais uma vez, para que isto aconteça a pessoa precisa “participar ativamente”, movimentando-se, falando e escutando. Doenças e mesmo a idade avançada podem levar à perda de audição e quando não se pode prevenir existe a alternativa de um tratamento clínico ou cirúrgico bem como o aparelho auditivo (aparelho de amplificação sonora individual - AASI).
Muitas pessoas, desde as civilizações antigas até a atualidade, gostavam ou gostam de usar objetos para adorno pessoal como diademas, colares, anéis, plumas e mesmo tintas sobre a pele ou de uso permanente como as tatuagens descritas a milhares de anos. E a orelha não ficou excluída destes costumes. Os brincos, milenarmente usados, vão desde os mais discretos até os mais ousados e extravagantes.
Não são todas as pessoas com deficiência auditiva ou zumbido que precisam ou podem usar um aparelho auditivo.
Para os pacientes que apresentam zumbido, mas sem perda da audição, também está indicado o uso de aparelhos auditivos especiais, que mascaram o zumbido. Esses aparelhos criam ruídos que não incomodam o paciente e fazem com que o ruído passe a ser imperceptível. Em muitos casos o uso destes aparelhos é temporário (de doze a dezoito meses) e o zumbido desaparece ou fica levemente perceptível, mas não incomoda.
Diz-se que cada caso é um caso. Dificilmente um mesmo aparelho com a mesma regulagem serve para duas pessoas diferentes, como assim também é um par de óculos.
O indivíduo com perda auditiva, com zumbido ou com ambos os sintomas, precisa ser examinado, pois existem muitas doenças, desde um simples acúmulo de cerúmen até um tumor comprometendo as vias auditivas.
Os exames vão desde audiometria tonal liminar, testes supraliminares com determinação do índice de reconhecimento da fala, timpanometria, BERA, emissões otoacústicas, processamento auditivo, além de outros, e exames por imagem como tomografia e ressonância nuclear magnética.
Muitos casos são resolvidos com pequenos procedimentos, tratamentos clínicos ou cirurgias.
Pacientes que não querem ou não podem ser submetidos a cirurgias, dependendo do caso, também podem usar um aparelho auditivo.
Há alguns tipos de surdez que nem o aparelho auditivo resolve.
A pessoa que tem necessidade de usar um aparelho auditivo deve fazê-lo o mais cedo possível bem como deve usá-lo a maior parte do tempo possível e, ainda, dependendo do tipo de aparelho, usar até mesmo para dormir. Aqueles que costumam dar aquela “cochilada” depois do almoço devem fazer sem retirar o aparelho de surdez.
Outra indicação para o aparelho auditivo é o zumbido, chiaço, também citado em muitos lugares como “tinnitus”, embora essa seja uma palavra da língua inglesa, ou “tinido” que segundo o “Aurélio Eletrônico” significa “Ruído de qualidade variável, podendo assemelhar-se ao de campainha, ou ao de zumbido”.
Os pacientes que apresentam perda auditiva e zumbido e que vão ao médico “somente” por causa da surdez e passam a utilizar AASI melhoram do zumbido em mais de oitenta por cento dos casos.
Quando a pessoa tem perda auditiva bilateral, e sempre que possível do ponto de vista técnico, é aconselhável o uso de aparelho nas duas orelhas para que o indivíduo possa ouvir um som mais natural (pelas duas orelhas, ou seja, “equalizado”). Com isso, haverá melhor qualidade sonora, melhor compreensão da voz e melhor localização da fonte sonora. Além de tudo haverá um uso mais racional do aparelho que não é muito “forçado” e ainda consome menos bateria.
Com as duas orelhas “ativas” todo o sistema auditivo fica mais ativo e o cérebro tem mais facilidade em “entender” os sons, especialmente os sons da voz. Ficar sem ouvir por longos períodos acarreta um “desaprender” e o indivíduo passa a ter cada vez mais dificuldade de entender e, em consequência, de falar dentro da normalidade, pois nós falamos do jeito que escutamos. Se escutarmos errado, falamos errado.
Com aparelho bilateral (ou binaural) as duas orelhas “funcionam” mais próximo do natural e o organismo reage melhor evitando as degenerações por falta de uso em uma orelha.
É um costume de pessoas com deficiência de audição, em especial as mais idosas, usar a mão aberta colocada atrás da orelha para ouvir melhor. Esta posição tem a finalidade de aumentar a concha da orelha e assim ampliar a área de captação do som, dirigindo-o para o interior da orelha. Neste sentido, a “mão” é o aparelho auditivo mais antigo que existe. Há algumas décadas certas pessoas também usavam um tipo de corneta com a mesma finalidade e isto auxiliava muito, principalmente nos tipos de surdez da orelha externa e da orelha média.
A tecnologia evoluiu e hoje contamos com modelos digitais que são miniaturizados, mais potentes e mais eficazes do que os modelos analógicos antigos.
A prescrição de um aparelho auditivo depende da avaliação e do diagnóstico otorrinolaringológico e fonoaudiológico. Cabe ao médico otorrinolaringologista definir se o uso do aparelho auditivo será o tratamento indicado ao paciente, considerando sua história clínica, grau e extensão da perda auditiva, assim como a causa desta. Ao fonoaudiólogo, cabe selecionar o modelo e o tipo de aparelho mais adequado, a tecnologia mais indicada e as regulagens necessárias, levando sempre em conta a individualidade e necessidade do paciente.
Devemos levar em consideração, que por mais sofisticada que seja a tecnologia dos aparelhos atuais, eles não substituem a orelha humana. Daí a importância da orientação e aconselhamento fonoaudiológico. O paciente deve iniciar o uso tão logo o médico recomendar, pois precisa reaprender a ouvir, ou seja, estimular a audição (desenvolver atenção para os sons, notar a presença e ausência destes, localizar de onde eles vêm, ouvir um som dentre vários, reconhecer o que está ouvindo, compreender e memorizar os sons).Em certas situações o uso de um aparelho auditivo para ouvir melhor é normal em algumas atividades profissionais ou de lazer.
Basicamente existem cinco tipos de aparelho auditivo:
1 – Corporal (Tipo Caixa). Foi o primeiro tipo de aparelho auditivo usado e hoje este modelo está quase abandonado. Uma caixa fica junto ao corpo, onde fica o microfone que capta o som que é encaminhado para o autofalante dentro da orelha através de um fio. Auxilia nas perdas auditivas moderadas e severas.
2 – BTE (Behind The Ear = atrás da orelha, ou retroauricular). São aparelhos auditivos colocados atrás da orelha. Estes aparelhos captam o som através de um microfone o qual é encaminhado para o autofalante dentro da orelha através de uma sondinha transparente quase imperceptível. Podem corrigir perdas leves até profundas. Se comparados ao modelo corporal em termos de potência e são muito mais estéticos.
3 – ITE (In The Ear = dentro da orelha). Está sendo utilizado desde 1983 e é mais discreto do que o retroauricular por se encaixar na concha da orelha. O microfone fica dentro da concha da orelha e com isso recebe um pouco mais de som, principalmente das altas frequências. Dos principais inconvenientes destaca-se o fato de o aparelho poder ser danificado pelo acúmulo de cerúmen necessitando de mais cuidados.
4 – ITC (In The Canal = dentro do canal). Este aparelho encaixa-se parcialmente na concha e orelha e dentro da metade externa do canal auditivo. As altas frequências são mais captadas pelo fato de ser intracanal e depois têm um ganho maior porque o autofalante fica mais próximo ao tímpano.
5 – CIC (Completely In The Canal = completamente dentro do canal, também conhecido como peritimpânico, por ficar bem próximo ao tímpano). É o mais discreto de todos e pelo fato de o autofalante estar bem próximo ao tímpano dá um som “mais natural”. É o mais difícil de manusear por ser muito pequeno e só para perdas auditivas moderadas.
O aparelho de amplificação sonora individual só deve ser comprado após a avaliação especializada de um médico otorrinolaringologista (especialista em ouvido) ou de um médico foniatra (especialista em fonoaudiologia) e do fonoaudiólogo.
Serão feitos exames especializados para verificar a necessidade e a possibilidade do uso do aparelho auditivo. E, mais importante que isso, deverá ser determinada a causa da perda auditiva, pois podemos ter doenças graves do ouvido, do nervo auditivo ou do cérebro que provocam surdez. Nestes casos o uso de um aparelho auditivo irá permitir o desenvolvimento e agravamento da doença enquanto se pensa que o “ouvido está ficando mais fraco”.
Quando há indicação para uso do aparelho auditivo o médico encaminha o paciente para o fonoaudiólogo que irá fazer os exames necessários para determinar o tipo de tipo de aparelho, demonstrando características técnicas como uni ou bilateralidade, tipo de molde, ganho, saída máxima, etc., características estas que são individuais.
Os exames realizados pelo fonoaudiólogo geralmente devem ser analisados conjuntamente pelo próprio fonoaudiólogo e pelo médico assistente.
Dificilmente um aparelho de surdez serve inteiramente de uma pessoa para outra.O aparelho auditivo deve ser comprado de uma firma especializada, que você conheça. Sempre há necessidade de manutenção, como revisões, limpezas, trocas de pilhas, etc. Só adquira aparelhos de lojas próximas à sua casa e jamais faça esse tipo de transação pela Internet ou compras “direto” da fábrica ou do exterior do país, pois você não terá garantia nenhuma.
Os acessórios são equipamentos na maioria das vezes opcionais, mas aconselháveis para que o paciente possa ter um bom controle da manutenção básica do aparelho. Entre esses acessórios podemos citar os abaixo relacionados.
O aparelho auditivo exige cuidados como qualquer outro aparelho elétrico delicado.
- Não o deixe cair ou bater em superfícies duras.
- Nunca molhe o aparelho: não o use durante o banho e na chuva ou com os cabelos molhados. Se por acaso o aparelho ficar molhado coloque-o delicadamente no desumidificador (veja acima) ou dentro de uma vasilha com arroz cru e leve-o o mais rápido possível para assistência técnica. Não use secador de cabelos na tentativa enxugar o aparelho.
- Não tente consertá-lo no caso de alguma avaria.
- Só utilize pilhas originais. Se o aparelho não estiver em uso abra o compartimento da pilha e deixe-o num local seco ou de preferência no desumidificador.
- Não usar o aparelho auditivo se tiver alguma infecção na orelha, principalmente se precisar uso tópico de medicamento, a não ser com indicação expressa do médico.
- Se o aparelho “apitar” é normal quando está ligado e fora da orelha, principalmente se estiver próximo de algum objeto ou da mão, ou ainda com o volume muito alto. Quando em uso pode ser um indicativo de que está mal adaptado na orelha ou o molde está muito frouxo.
- Limpar regularmente o aparelho com pano seco e limpo.
- Ligue o aparelho somente depois de estar perfeitamente colocado na orelha (a não ser naqueles que ligam automaticamente quando se coloca a pilha) para evitar ruídos excessivos, apitos, sobrecarga do sistema e desgaste desnecessário da pilha.
- Fazer revisão técnica do aparelho periodicamente de acordo com instruções da empresa fornecedora.- Embora não seja um cuidado propriamente com o aparelho, faça uma avaliação periódica da audição com o seu médico.
Ouvir através do aparelho auditivo deve se transformar numa redescoberta do sentido da audição, importante nas relações humanas, no seu contato com o mundo, gerando melhor comunicação e melhor aceitação e convivência com uma nova forma de vida.
Há necessidade do paciente “reaprender” a ouvir. Muitos sons que não ouvia mais, agora vão fazer parte da sua vida. O barulhinho da chuva, do lavar a louça, dos passos de uma pessoa ou daquela voz sussurrada vai fazer parte do seu quotidiano.
Não basta “poder” usar um aparelho de amplificação sonora individual: é preciso “querer” usá-lo. O período de adaptação pode levar dias, semanas ou mesmo alguns meses, pois depende do canal auditivo, da doença pela qual a pessoa está usando o aparelho e da obediência às orientações técnicas passadas pelo médico ou pelo fonoaudiólogo responsável pela adaptação do aparelho.Lembrar que um aparelho, por mais sofisticado que seja, jamais substitui perfeitamente um órgão ou uma função do corpo humano, este que precisa de uma “engenhosidade” e uma “tecnologia” divina.
Atenção!
Esse texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um ou vários profissionais e não se caracteriza como sendo um atendimento.